sexta-feira, 23 de abril de 2010

A Escola Inclusiva E A Diversidade

A Escola Inclusiva E A Diversidade

Cirlandia Rouseline Almeida Costa

Embora não seja a Escola o único lugar onde acontece a educação, na sociedade atual a educação Escolar crescentemente se faz indispensável para a cidadania autônoma e competente. Constitui-se a Escola em espaço especialmente organizado para que se dê a construção de valores, conhecimentos e habilidades necessárias ao pleno, consciente e responsável exercício da democracia.

Estrutura-se a Escola através dos sujeitos que dela fazem parte e das relações que estabelecem entre si e com o meio. Nestas relações aparece a singularidade de cada sujeito, a sua cultura, o seu ponto de vista, a sua leitura de mundo, que comunicados aos outros, contribuem para a construção de conhecimentos reelaborados.

Na qualidade de espaço instituído pela esfera política e mediatizado pelo Estado, pela família e a sociedade, a Escola por integrar um amplo e complexo sistema social que não é neutro, pois se compõem de grupos diversos e por vezes divergentes, sofre intervenção dessas esferas, não sendo também ela uma instituição neutra, isolada, uma vez que representa os interesses da sociedade como construção histórica.

A Escola é a instituição responsável pela passagem da vida particular e familiar para o domínio público, tendo assim função social reguladora e formativa para os alunos.

A Escola é a instituição por intermédio da qual a criança se introduz no mundo público, e daí o papel do Estado em relação a todas elas. À família cabe o dever de garantir à criança o que é típico do domínio privado do lar, e ao Estado cabe garantir o direito indispensável da criança à educação Escolar, pois é ela que faz a transição entre essas duas vidas. (MANTOAN).

Acima de tudo, a Escola tem a tarefa de ensinar os alunos a compartilhar o saber, os sentidos diferentes das coisas, as emoções, a discutir, a trocar pontos de vista. É na Escola que desenvolvemos o espírito crítico, a observação e o reconhecimento do outro em todas as suas dimensões.

Entretanto, ao analisar a realidade das nossas Escolas, percebo que a mesmas estão preparadas para receber um aluno idealizado. Tem um projeto educacional elitista, meritocrático e homogeneizado, o que faz com que ela venha produzindo situações de exclusão que, injustamente, prejudicam a trajetória educacional de muitos estudantes, pois certamente um aluno diferenciado, ao ingressar nessa estrutura, será excluído, parecendo esse movimento ser próprio à estrutura e ao funcionamento da Escola. Esta privilegia determinados conhecimentos e comportamentos, negando a diversidade, e esforçando-se para codificar a produção social a partir de certos valores. Parece que a Escola e sua comunidade não estão preparadas para acolher um aluno mais diferenciado, podendo acontecer de, no ensino regular, a inclusão, por força de lei, pode ser mais desastrosa do que se possa prever.

Os sistemas Escolares também montados a partir de um pensamento que recorta a realidade, que permite dividir os alunos em normais e deficientes, as modalidades de ensino em regular e especial, os professores em especialistas nesta e naquela manifestação das diferenças. A lógica dessa organização é marcada por uma visão determinista e formalista, própria do pensamento científico moderno, que ignora o subjetivo, o afetivo, o criador. Sem os quais não conseguimos romper com o velho modelo Escolar para produzir a reviravolta que a inclusão impõe.

Pode-se dizer que as causas fundamentais que têm promovido o aparecimento da inclusão são de dois tipos: por um lado, o reconhecimento da educação como um direito, e, por outro, a consideração da diversidade como um valor educativo essencial para a transformação das Escolas.

É importante considerar e compreender que a sociedade atual é a sociedade do estereótipo, das crenças prévias. A partir de imagens estereotipadas, cultiva-se a crença de que existe um saber universal, que se coloca como um produto acabado a ser seguido por todos, produzindo preconceitos do que se acredita que os sujeitos devam ser. Porém, o saber ali apresentado é um produto externo aos sujeitos, tornando-se inconsistente, uma vez que não fala de sua realidade. Acaba emergindo um saber que se transforma em preconceitos, gerando, gradativamente, discriminação e tratamento desigual dos sujeitos.

Vale ressaltar que o que de fato vem sendo excluído da sociedade é justamente a diferença, a singularidade, as exceções. O que se espera de todos é a semelhança, o grupo, a padronização. A diversidade cultural constitui um problema para a convivência humana, pois, por meio dos “ideais” sociais, que são difundidos e assimilados por todos, são determinados os modelos, de acordo com os quais o sujeito deve agir. Temos consciência de que a sociedade possui uma visão de homem padronizada e classifica as pessoas de acordo com essa visão. Elegemos um padrão de normalidade e nos esquecemos de que a sociedade se compõe de homens diversos, que ela se constitui na diversidade, assumindo de um outro modo as diferenças. Este deve ser um trabalho necessário, o de mudar a imagem que a sociedade tem das pessoas especiais e rever esta exigência de que todos devem ser iguais e seguirem padrões e normas para demonstrarem essa igualdade.

Muito freqüentemente, as diferenças entre alunos são vistas como um problema. Muitas pessoas acreditam que as diferenças dos alunos em relação a ajustes educacionais são dificuldades que necessitam ser trabalhadas, melhoradas ou os alunos precisam estar “prontos” (homogeneizados) para se encaixarem em uma situação de aprendizagem. Essa visão pode ser um grande inconveniente, prejudicando, assim, o processo de aprendizagem nas salas de aula que tentam promover valores e oportunidades de aprendizagem inclusivas para todos os alunos.

Para que a inclusão seja bem sucedida, as diferenças dos alunos devem ser reconhecidas como um recurso positivo. As diferenças entre os alunos devem ser reconhecidas e capitalizadas para fornecer oportunidades de aprendizagem para todos os alunos da classe.

A educação inclusiva é um meio privilegiado para alcançar a inclusão social, algo que não deve ser alheio aos governos e estes devem dedicar os recursos econômicos necessários para estabelecê-la. Mais ainda, a inclusão não se refere somente ao terreno educativo, mas o verdadeiro significado de ser incluído. Está implícita na inclusão social, a participação no mercado de trabalho competitivo, sendo este o fim último da inclusão.

Sendo assim, a educação inclusiva não é tarefa somente da Escola, ela deve caminhar junto com a construção de uma sociedade inclusiva, pois a instituição Escolar precisa estar relacionada ao sistema social, político e econômico vigente na sociedade. A educação inclusiva implica na implementação de políticas públicas, na compreensão da inclusão como processo que não se restringe à relação professor-aluno, mas que seja concebido como um princípio de educação para todos e valorização das diferenças, que envolve toda a comunidade Escolar.

A Declaração de Salamanca, elaborada em 1994, na Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais na Espanha, enfatiza a necessidade de que a educação seja assumida com a mais alta prioridade política e financeira, incluindo mudanças nas leis educacionais, incorporação de mecanismos democráticos na gestão das Escolas, implementação dessa temática em programas de formação inicial e em serviço, e existência de mecanismos favorecedores do processo de inclusão.

“Sem dúvida, a razão mais importante para o ensino inclusivo é o valor social da igualdade. Ensinamos os alunos através do exemplo de que, apesar das diferenças, todos nós temos direitos iguais. Em contraste com as experiências passadas de segregação, a inclusão reforça a prática da idéia de que as diferenças são aceitas e respeitadas. Devido ao fato de as nossas sociedades estarem em uma fase crítica de evolução, do âmbito industrial para o informacional e do âmbito nacional para o internacional, é importante evitarmos os erros do passado. Precisamos de Escolas que promovam aceitação social ampla, paz e cooperação.” (STAINBACK, 1999, p. 26 e 27)

Deste modo, é importante salientar que, a principal razão para a inclusão não é que os alunos previamente excluídos estarão necessariamente se tornando proficientes em socialização, história ou matemática, embora seja óbvio que nas turmas inclusivas há mais oportunidades para todos crescerem e aprenderem. Ao contrário, a inclusão de todos os alunos ensina ao aluno portador de deficiências e a seus colegas que todas as pessoas são membros igualmente valorizados da sociedade, e que vale a pena fazer tudo o que for possível para poder incluir todos na nossa sociedade.

A inclusão é percebida como um processo de ampliação da circulação social que produz uma aproximação dos seus diversos protagonistas, convocando-os à construção cotidiana de uma sociedade que ofereça oportunidades variadas a todos os seus cidadãos e possibilidades criativas a todas as suas diferenças.

Segundo Diniz e Vasconcelos (2004), “o princípio fundamental da Educação Inclusiva consiste em que todas as crianças devem aprender juntas, onde isso for possível, não importando quais dificuldades ou diferenças elas possam ter.”

Defendo também, desde a educação infantil, a inserção escolar da criança com deficiência no sistema regular de ensino. Isso constitui uma possibilidade de ela ter uma trajetória educacional mais favorável para suas aprendizagens, na medida em que partilha de um ambiente marcado pelo princípio do “todos”, e não pela idéia do “alguns”. E vive a possibilidade de conhecer formas de estar no mundo e de aprender que são diferenciadas da sua, podendo experimentar situações de aprendizagem mais rica para si mesma e para possibilidades de intervenção pedagógica.

Para reforçar, acredito que uma Escola inclusiva adota práticas baseadas na valorização da diversidade humana, no respeito pelas diferenças individuais, no desejo de acolher todas as pessoas, na convivência harmoniosa, na participação ativa e central das famílias e da comunidade local em todas as etapas do processo de aprendizagem. E, finalmente, na crença de que, qualquer pessoa, por mais limitada que seja em sua funcionalidade acadêmica, social ou orgânica, tem uma contribuição significativa a dar a si mesma, às demais pessoas e à sociedade como um todo.

Para uma Escola tornar-se inclusiva, ou seja, uma instituição que, além de aberta para trabalhar com todos os alunos, incentiva a aprendizagem e a participação ativa de todos, faz-se necessário um investimento sistemático, efetivo, envolvendo a comunidade Escolar como um todo. Para isso efetuar-se de maneira satisfatória, é ainda necessário que a Escola tenha estímulo e autonomia na elaboração de seu projeto pedagógico, que possa elaborar um currículo Escolar que reflita o meio social e cultural onde os alunos estão inseridos; que tenha a aprendizagem como eixo central em suas atividades Escolares e que reconheça o enriquecimento advindo da diversidade.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Diversidade sempre, desde a Educação Infantil

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Diversidade sempre, desde a Educação Infantil
Valorizar diferentes raças e gêneros e pessoas com deficiência é trabalho para todo dia. Materiais adequados são um bom aliado nessa tarefa
Preconceitos, rótulos, discriminação. É inevitável: desde muito cedo, os pequenos entram em contato com esses discursos negativos. Para que eles saibam lidar com a diferença com sensibilidade e equilíbrio, é preciso que tenham familiaridade com a diversidade - e não apenas em projetos com duração definida ou em datas comemorativas, como ainda é habitual em vários lugares. Outra recomendação importante é que a questão não seja tratada como um conteúdo específico (o que invalida propostas do tipo "bom, turminha, agora vamos todos entender por que é importante respeitar as diferenças").Melhor que isso é abordar o tema de jeito natural, inserindo-o em práticas diárias, como brincadeiras, leitura e música. "O convívio cotidiano é a forma mais eficaz de trabalhar comportamentos e atitudes", diz Daniela Alonso, psicopedagoga e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.

Para conseguir isso, uma providência essencial é adquirir materiais didáticos que valorizem as diferentes raças, pessoas com deficiências físicas e mental e mostrem meninos e meninas em posição de igualdade. Ao comprar instrumentos musicais, contemple os de diversas culturas. No caso de brinquedos como bonecas, já existem lojas que se preocupam especialmente em privilegiar a diversidade. A compra de livros pode ser mais difícil: uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas que analisou 33 obras de Língua Portuguesa só encontrou duas meninas não brancas nas ilustrações. Entretanto, a busca criteriosa e a leitura prévia costumam resolver o problema. Se a turma já estiver em fase de alfabetização, o Guia Nacional de Livros Didáticos, do Ministério da Educação, é a melhor referência - ele garante que as obras recomendadas não contêm situações de discriminação. Não se pode esquecer que os pequenos aprendem com o exemplo dos adultos. Pensando nisso, a direção da EMEI Aricanduva, em São Paulo, capacitou a equipe para lidar com a diversidade. Antes, só algumas professoras trabalhavam a questão, por meio de projetos específicos. Hoje a diversidade é contemplada em todo o currículo. "Um resultado prático é que, agora, crianças negras que se retratavam como brancas nos desenhos passaram a usar lápis marrom e preto", comemora a coordenadora Cleide Andrade Silva.
Para conseguir isso, uma providência essencial é adquirir materiais didáticos que valorizem as diferentes raças, pessoas com deficiências físicas e mental e mostrem meninos e meninas em posição de igualdade. Ao comprar instrumentos musicais, contemple os de diversas culturas. No caso de brinquedos como bonecas, já existem lojas que se preocupam especialmente em privilegiar a diversidade. A compra de livros pode ser mais difícil: uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas que analisou 33 obras de Língua Portuguesa só encontrou duas meninas não brancas nas ilustrações. Entretanto, a busca criteriosa e a leitura prévia costumam resolver o problema. Se a turma já estiver em fase de alfabetização, o Guia Nacional de Livros Didáticos, do Ministério da Educação, é a melhor referência - ele garante que as obras recomendadas não contêm situações de discriminação. Não se pode esquecer que os pequenos aprendem com o exemplo dos adultos. Pensando nisso, a direção da EMEI Aricanduva, em São Paulo, capacitou a equipe para lidar com a diversidade. Antes, só algumas professoras trabalhavam a questão, por meio de projetos específicos. Hoje a diversidade é contemplada em todo o currículo. "Um resultado prático é que, agora, crianças negras que se retratavam como brancas nos desenhos passaram a usar lápis marrom e preto", comemora a coordenadora Cleide Andrade Silva.


Diversidade versus Desenvolvimento


O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro fez uma rápida, porém instigante, intervenção no painel sobre diversidade nos paises americanos, primeiro painel do Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural, realizado pelo Ministério da Cultura nos dias 27 a 29, em Brasília.
Segundo o antropólogo, existe uma relação intrínseca entre natureza e cultura. A própria atuação dos Ministérios encarregados de cada uma das áreas mostra isso. De um lado está a biodiversidade, de outro a diversidade cultural. Não se deveria nem mesmo falar em Ministério do Meio Ambiente e em Ministério da Cultura. Ambos poderiam ser unificados no “Ministério da Vida”. A agenda ambiental e a agenda da cultural, portanto, exibem diversos pontos de contato. A crise ecológica é uma crise cultural e o inverso também é verdadeiro.
A discussão do seminário recairia então em saber como preencher o conceito de diversidade cultural e levá-lo a sério. Ninguém é contra a diversidade cultural, mas poucos se prendem na discussão das conseqüências de seu reconhecimento.
É preciso, como havia dito anteriormente o Ministro Gilberto Gil, lutar pela diversidade. Ela não é um fato estático que apenas se reconhece, mas algo pelo qual se deve lutar. A diversidade não reside apenas no passado e possui papel fundamental no desenho do futuro.
Diversidade não é uma simples questão de auto-estima ou de inclusão social. Esses são dois conceitos que não ajudam a entender a diversidade cultural e as necessidades de afirmação de identidades. A questão da auto-estima sugere que a cultura pode ser um placebo para apaziguar a diferença. Da mesma forma, cultura não pode ser um elemento de inclusão social, uma vez que essa afirmação traz consigo uma noção de ajustamento, de conformismo social. Essa noção transforma a cultura em verdadeiro antidepressivo coletivo para minorias que sofrem de auto-desconfianca. Esse subtexto é indigno e deve ser repensado.
Cultura é uma manifestação múltipla e diferenciada em si. Se isso é verdade, a expressão diversidade cultural é um pleonasmo. A cultura não pode ser um instrumento para unificação. Somente existe autoestima com autodeterminação, e não o inverso. Volta-se então ao contexto da pergunta inicial: como levar a diversidade cultura a sério? Através da percepção que a diversidade é não apenas cultural, mas também política.
O débito com os escravos, por exemplo, deve ser pago em espécie. Deve ser pago reconhecendo expressamente a existência do débito e o valor devido pela contribuição cultural desses povos para a nossa identidade. O pagamento do débito começa em casa.
Os nossos Estados foram construídos contra a diversidade. Afirmar o contrario é apenas afirmar boas intenções. O Estado sublimou a diversidade. O reconhecimento do débito é o passaporte do Estado para o futuro.
Mas o problema que hoje enfrentamos é que o Brasil é grande, mas o mundo é pequeno. A crise ecológica e cultural do planeta exige criatividade intelectual dos paises em desenvolvimento. Eles precisam perceber que não há como se desenvolver tal quais os paises desenvolvidos um dia se desenvolveram (por motivos ecológicos e sistêmicos que são bastante conhecidos).
Por isso o crescimento e o desenvolvimento precisam vir de outro ponto. A diversidade cultural e a sua afirmação podem representar uma saída. O Brasil precisa descobrir como se desenvolver fora do modelo posto. Tudo isso porque o Brasil não será os Estados Unidos quando crescer. Precisamos – disse o palestrante – de um PAC (“Programa de Afirmação Cultural”).
O jogo do mundo é de soma zero, pois nada é infinito. É preciso mudar o infinito de lugar porque não temos nada infinito. Temos que repensar a diversidade a partir de uma noção de desenvolvimento. O termo sustentabilidade, que geralmente acompanha os debates sobre desenvolvimento deve aqui ser revisado. Sustentabilidade é apenas uma noção para tornar a idéia de desenvolvimento sustentável.
A diversidade cultural é então um instrumento para criticar a forma tradicional de se conceber o desenvolvimento. A própria idéia de desenvolvimento, em si, nem é tão adequada quanto parece. Talvez justiça social seja uma idéia mais desejável do que o próprio desenvolvimento.
A política de afirmação da diversidade implica em ações internas. No caso do Brasil, é preciso aplicar dentro o que estamos pedindo no cenário internacional. Propomos ao mundo uma ação afirmativa para o Brasil, mas isso significa que então temos que aplicar essas mesmas medidas dentro do nosso território. É fácil ser vítima, dominado, para fora e ser dominador para dentro. A solução mais fácil é criticar o imperialismo cultural no cenário externo e depois, ao chegar em casa, mandar a cozinheira servir o jantar.
A diversidade cultural, vale lembrar, não é estática nem regressiva. Não se trata de imaginar um pluralismo brando, mas sim uma diversidade como multiplicidade forte, na qual não existe uma unidade final. E não basta imaginar, mas aplicá-la na realidade. É dito que a realidade é bonito lugar para se visitar, mas que ninguém vive nela, pois todos moramos na imaginação. Isso precisa ser posto em perspectiva e criar um cenário que reconheça a diversidade pujante.
Uma outra crítica pode ser feita ao conceito de tolerância, como abordado pelo professor Bartolomé. Essa é uma noção horrível. Quem gostaria de ser tolerado? As pessoas querem ser amadas, ou mesmo odiadas, mas não toleradas. Ser tolerado não satisfaz ninguém.
Por fim, é importante perceber que o capitalismo também representa um papel nesse debate. O capitalismo apresenta uma característica interessante pois ele, em regra, tira das pessoas o que elas tem para que elas queiram o que não apenas não tem, como nunca terão. As duas idéias são simultâneas. Esse é um processo que os índios conhecem muito bem. Trata-se do principio da propaganda. Essa é a crise do planeta: tirar de nos o planeta que temos e nos oferecer algo que não se assemelha ao planeta em que vivemos. Certos países desenvolvidos precisariam de sete planetas como o nosso para manter a sua media de produção e consumo. O Brasil não precisa almejar essa trajetória.
A diversidade cultural é um antídoto contra a megalomania. Ela não apenas preserva a identidade, mas também a alteridade. Não se trata de uma questão de identidade, mas de afirmação que de existem outros com tais ou quais qualidades e depois perceber como essas qualidades são apropriadas. Não se trata, é claro, encerrou o palestrante, de lidar com extremos como o ressurgimento e a apropriação de práticas culturais cruéis desenvolvidas por alguns povos. O bom antropófago é aquele sabe o que não pode comer.
Última Atualização ( 29 de junho de 2007 )


fonte imagem: http://www.culturalivre.org.br/images/seminario_logo.jpg
fonte texto: http://www.culturalivre.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=179&Itemid=61



Milly, Molly: desenho do Discovery Kids aborda respeito à diversidade

As personagens são duas amigas inseparáveis que se divertem e vivem aventuras, mas também enfrentam dificuldades.
Milly tem cabelos encaracolados, pele morena, olhos castanhos e é muito aventureira. Molly tem cabelos claros, olhos azuis, e é bastante justa e leal. Essas duas amigas inseparáveis são as personagens de Milly, Molly, novo desenho do Discovery Kids. A série foi adaptada dos livros da escritora neozelandesa Gill Pittar e pretende ensinar às crianças como lidar com as diferenças - o que pode ser identificado até mesmo pela caracterização das personagens. Os episódios, que vão mostrar aventuras e também dificuldades vividas por Milly e Molly abordam, ainda, conceitos como honestidade, responsabilidade e perdão.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Comentário interessante sobre a questão abordada na postagem anterior: "Livro infantil combate racismo de forma lúdica"

O estande do Concurso Literário “Eu leio, Eu escrevo” foi palco do lançamento do livro: “Cabelo Ruim?” – A história de três meninas aprendendo a se aceitar. A obra foi escrita pela jornalista Neusa Baptista e ilustrada pela designer Nara Silver.

A questão do preconceito racial é muito difícil de ser tratada, especialmente nas salas de aula. O livro tem o intuito de apoiar o trabalho de professores na orientação para a aceitação das diferentes etnias.

“Estou me sentindo muito feliz por estar aqui concretizando este trabalho, mas principalmente por perceber que as escolas têm demonstrado muito interesse no livro. Infelizmente o tema ainda está inserido na nossa realidade, e espero que o meu trabalho colabore com a aceitação de muitas pessoas e principalmente na construção de uma sociedade mais igualitária”, disse a autora.

O livro foi inspirado na história vivenciada pela autora e por outras pessoas que com ela conviviam durante a infância. É comum crianças negras se sentirem feias, não gostarem e não se aceitarem por causa dos seus cabelos, para muitos essa afirmação pode parecer meio “démodé”, mas é a mais pura realidade, pois a sociedade possui um padrão de beleza que exclui os negros.

O livro é destinado a crianças que estudam nas séries iniciais, mas pode despertar interesse em toda a sociedade. Segundo a professora Kerlla Amorim, piadinhas falando que o cabelo de outras crianças é de “bombril” são corriqueiras, apesar de serem menos freqüentes. Kerlla ainda acrescenta que o livro vem a calhar em ajudar as instituições a se orientarem na discussão e a trabalhar com as diferenças.

“Antigamente a gente não se via nas Tvs e nem estávamos em evidência nos meios de comunicação, hoje é mais comum nos vermos. E não apenas como empregados ou coisas do tipo. Com a organização do movimento, estamos conquistando o nosso espaço. Trabalho com crianças e adolescentes e vejo constantemente a não aceitação da pele e do cabelo, resultado do padrão de beleza imposto pela sociedade. Com este livro vai ser mais fácil ilustrar que o nosso cabelo não é ruim e sim diferente”, disse Célia Silva Santos membro do Movimento de Inteligência Negra (MIN).

A obra é a primeira atividade do “Projeto Pixaim: Nem bom, nem ruim”, que visa combater a discriminação. As escolas que passarem pelo estande receberão um exemplar do livro gratuitamente e ainda podem fazer um cadastro para a autora realizar palestras sobre o preconceito. O projeto também prevê outras atividades, a próxima a ser planejada é a gravação de um documentário também tratando sobre o tema, desta vez com mulheres negras.

História – “Cabelo Ruim?” conta a história de três meninas que ao se depararem com o preconceito contra o cabelo crespo em sala de aula assumem uma postura positiva em relação ao assunto e conseguem dar a volta por cima de uma forma divertida. “É uma maneira de mostrar à criança que seu cabelo é bonito sim e deve ser aceito como é. A pergunta que precisa ser feita é: ‘quem disse que o cabelo crespo precisa ser alisado para ser bonito?’”.
Temas como diversidade, preconceito, respeito às diferenças podem e devem ser trabalhados de forma prazerosa com as crianças.
Olhem só que legal algumas indicações de livros para trabalho em sala:


*Tudo Bem Ser Diferente
Todd Parr

Autor de livros infantis de sucesso e criador do desenho animado "Todd World", do canal Discovery Kids, Todd ensina as crianças a cultivar a paz e os bons sentimentos com frases curtas, diretas e envolventes, e ilustrações coloridas que aproximam e chamam a atenção de meninos e meninas (e dos adultos também). "Tudo Bem Ser Diferente" trabalha com as diferenças de cada um de maneira divertida, simples e completa, abordando assuntos que deixam os adultos de cabelos em pé, como adoção, separação de pais, deficiências físicas e preconceitos raciais, entre outros.
Ziraldo

Editado pela primeira vez em 1986, conta a história de dois amigos de cores diferentes que crescem juntos.
"Sua pele era cor de chocolate. As bolinhas dos olhos pareciam duas jabuticabas: pretinhas. Os cabelos eram enroladinhos e fofos. Pareciam uma esponja."
Parte da Série Mundo Colorido, da Editora Melhoramentos.
*Na Minha Escola Todo Mundo É Igual
Rossana Ramos, Priscila Sanson

*AS TRANÇAS DE BINTOU
Sylviane A. Diouf
O sonho de Bintou, uma menina africana, é ter tranças como todas as mulheres mais velhas de sua aldeia. Mas, como ainda é criança, tem de se contentar com os birotes. A autora Sylviane A. Diouf, filha de pai senegalês e mãe francesa, criou uma delicada história sobre a angústia do rito de passagem e o aprendizado do crescimento. As ilustrações de Shane W. Evans reforçam beleza, tradição e encantamento da cultura africana. Um belo exercício de respeito à pluralidade cultural e ao amadurecimento.

Editora: Cosac & Naify
* Menina Bonita do Laço de Fita

Editora: Atica
Menina Bonita do Laço de Fita´ traz uma linda história, onde um coelho branquinho queria casar-se e ter uma filha ´bem pretinha´. Durante a obra, o coelho tenta descobrir o segredo para conquistar o seu tão sonhado desejo. Leia o livro e acompanhe a busca do coelhinho!
















sábado, 20 de fevereiro de 2010

A diversidade na escola



Ao tratar da diversidade humana na escola podemos ter como parâmetro a necessidade de reconhecimento que caracteriza os seres humanos.
Para interpretarmos quem somos como coletividade, ou quem sou como indivíduo, dependemos do reconhecimento que nos é dado pelos outros. “Ninguém pode edificar a sua própria identidade independentemente das identificações que os outros fazem dele”, nos ensina Habermas (1983: 22).
O reconhecimento pelos outros é uma necessidade humana, já que o ser humano é um ser que só existe através da vida social.
Como também nos ensina Charles Taylor (1994: 58), “um indivíduo ou um grupo de pessoas podem sofrer um verdadeiro dano, uma autêntica deformação se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem limitada, degradante, depreciada sobre ele.”
Um falso reconhecimento é uma forma de opressão. A imagem que construímos muitas vezes sobre os portadores de deficiências e grupos subalternos, pobres, negros, prostitutas, homossexuais, é deprimente e humilhante para estes e causa-lhes sofrimento e humilhação, ainda mais por que tais representações depreciativas são construídas quase sempre para a legitimação da exclusão social e política dos grupos discriminados.
Para que haja respeito à diversidade na escola é necessário que todos sejam reconhecidos como iguais em dignidade e em direito. Mas para não nos restringirmos a uma concepção liberal de reconhecimento, devemos também questionar os mecanismos sociais, como a propriedade, e os mecanismos políticos, como a concentração do poder, que hierarquizam os indivíduos diferentes em superiores e dominantes, e em inferiores e subalternos.
Em outras palavras, ao considerarmos que os seres humanos dependem do reconhecimento que lhes é dado, estamos reconhecendo que a identidade do ser humano não é inata ou pré-determinada, e isso nos torna mais críticos e reflexivos sobre a maneira como estamos contribuindo para a formação das identidades dos nossos alunos.
Como ainda nos ensina Taylor (1994: 58), “a projeção sobre o outro de uma imagem inferior ou humilhante pode deformar e oprimir até o ponto em que essa imagem seja internalizada”. E não “dar um reconhecimento igualitário a alguém pode ser uma forma de opressão”.
Porém, quando afirmamos que “todos os seres humanos são igualmente dignos de respeito” (Taylor, 1994: 65), isso não pode significar que devemos deixar de considerar as inúmeras formas de diferenciação que existem entre os indivíduos e grupos.
Devemos fornecer o apoio e os recursos necessários para que não haja assimetria, desigualdade nas oportunidades e no acesso aos recursos. De novo Taylor (1994: 64): “Para aqueles que têm desvantagens ou mais necessidades é necessário que sejam destinados maiores recursos ou direitos do que para os demais”.